sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pode deixar dona Neide

Sábado passado, o único dentre últimos cinco sábados em que recebemos a ilutre visita da faxineira. Ou melhor, da Neide. "Ela tem nome viu!" me retalham lá em casa. Não é por mal, ando meio ruim com nomes. Sempre que ela vem me falha seu nome, sorte haver um quadro na parede, "Neide R$12,50 p/ cada".
Fim da faxina, meu quarto esta arrumado. Por instantes eu o contemplo, sei que num vai durar muito. Um item destoa naquela momentânea bagunça organizada,uma pilha de roupa que eu não usava mais e havia separado para doar.
Era a hora!
-Hum Neide. Olha, eu separei estas roupas aqui, e ... com vergonha dela não aceitar...
-Se você quizer levar ??
-Ta bom , levo sim. Brigado.
Mais tarde, banhado e perfumado, quase pronto pra visitar minha senhora, procuro a camiseta nova da Luigi Bertoulli.
Já era, estava no monte que a Neide levou.
Na boa, tinha que pedir devolta. Acabará de comprar a tal LB. Estava precisando de roupas novas, nem lembrava quando tinha comprado a última camiseta, só lembrava que havia custado quase umas três camisetas das do Bom Retiro.
Hoje ela veio.
Pedi.
-Neide, então é... Tinha camiseta, com uma cor meio misturada , nas que você levou.Sabe?
-Ham..
-Acho que ela foi por engano junto com as que eu te dei.
-Ai desculpa, eu trago semana que vem.
-Sem problemas, eu que peço desculpas se você já passou pra alguém.
-Olha nenhum dos menino lá de casa usou viu. Falaram que num é camiseta de homi.
.
.
.
- Neide, faz o seguinte. Desencana, da pra alguém la do bairro mesmo, num precisa trazer não...
- Tá bom, tchau!
- Ha olha só, vem denovo daqui duas semanas...Três faxinas no mês estoura nosso orçamento...
Mais duas parcelas do cartão... só mais duas e dou um rolê no Bom Retiro.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Das profundezas de uma cueca.

Apreciar um bom vinho com os pés sobre uma pilha de processos enquanto relaxava em minha poltrona de dois mil dólares era algo que nem todo o dinheiro em minha cueca seria capaz de pagar.

Minha garganta começou a doer horas depois. Fui até a farmácia. Tirei um real enquanto fingia coçar o saco e comprei um analgésico. Não funcionou. Fui lá de novo. Tirei uma nota de cinco dessa vez, um pouco borrada. A moça da nota ficou com bigode. Estava no lugar errado, onde ficavam os cartões de crédito e débito. Peguei um frasco de mel com própolis. Uma velha na fila disse que própis é bão, mas leite quente com conhaque e limão é mió ainda. Poupei-a de maiores elucidações à respeito. Na saída da farmácia, outro fulano de tal me interrompeu a trajetória. Dizia que o jornal me chamava de ladrão. Queria explicações. Eu disse que sim, o jornal estava certo, e ele liberou a passagem.

Sentei na minha poltrona e abri o jornal. Acendi um cubano. Só queria ver se acertaram o meu melhor ângulo. A reportagem é previsível e entendiante. Ninguém quer saber das coisas certas que fiz, só das erradas, que no meu caso não existem. Sempre andei na linha. O resto é armação política, embuste de algum traíra. Acabei cochilando.

A tevê já tinha saído do ar, com aquele monte de chuvisco em preto e branco. Acordei, assustado. Ainda era noite. Bati as mãos na cueca. Para a minha sorte, estava cheia. Pude voltar a dormir, tranquilo.

Andar com dinheiro na cueca é um método bastante criticado pelos meus colegas de trabalho, mas tem suas vantagens. Não há nada mais rápido que pagar em cash. Não precisa de senha, de uma boa conexão para a maquininha, é aceito em cem por cento dos estabelecimentos. Além disso, não levanto suspeitas e ainda arranco suspiros pelos corredores do ministério, com aquele volumão na frente. Deixo sempre separado para essa região um bolo de quinhentos em notas de um.

Na carteira, só o bilhete do ônibus, quinze reais e alguns cartões falsos. No compartimento interno, um papelzinho com uma suposta senha junto à foto três por quatro da minha mãe e uma imagem de São Longuinho. Já dizia o ditado: ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Político, é reeleito.

Não me encaro como uma pessoa má. Nunca roubei nada. Digamos que eu seja um Batman comissionado. Faço a minha parte, mas cobro. É justo e meus colegas aprovam. Imagino o congresso nacional como um sindicato de Batmans, Robins e Supermans. Nessa Gotham, entretanto, não podiam faltar os Coringas, os Duas-Caras.

Estes últimos são muito comuns. Mudam de partido como mudam de cueca, uma vazia por outra cheia. Gente perversa que não faz questão de entender as regras do jogo, sempre minando e subvertendo as bases que sustentam essa maravilhosa cidade. Rezo todos os dias para que não consigam aprovar seus projetos. Confesso que às vezes dá certo, principalmente após uma transferência intercuecal.

Recentemente, algumas calcinhas entraram em campo. O aparecimento delas foi encarado com naturalidade pelas demais Excelências, já que tratava-se de verdadeiros tangões, coadores de café comparáveis às cuecas mais extravagantes.

Certo dia, meu neto perguntou sobre o que esperava para o futuro deste País. Não pude responder a tempo, e antes que surgisse uma luz para desenvolver um argumento ardiloso, sem perder a delicadeza e a inocência das crianças, minha esposa - a quinta - se antecipou:

"Roubar muuuóoooooooointo, baby!"

"Isso é que é mulher!", exclamei. Tasquei-lhe um beijo que quase me arrancou a dentadura. O garoto não entendeu nada. Nem a cueca de presente, no seu aniversário.

Dom Geraldo: "Corrupção no DF é uma vergonha internacional"

Vou além.

É "cósmica". Alienígenas não fariam melhor.

Situação no DF é "bastante grave", diz ministro da Justiça

Se construir um castelo de mais de R$ 20 milhões no meio do mato e não declarar não é algo considerado grave, então tá tudo cagado.

Temporada de caça.

O propósito desse blog é relatar qualquer história ou fato relevante, aconte-Cido ou não aconte-Cido, de maneira esdrúxula e pomposa, beirando o non sense (talvez tangenciando seja a palavra mais adequada).

Por isso foda-se o que acabei de escrever.