Ali do fundo do ônibus parado eu via
todos entrando. Vi a ordem como alguns operários se distribuíram, cada um num
respectivo assento no corredor, nunca aos pares.
Teorizar foi inútil, estavam dispostos
desta forma porque assim era mais fácil pra conversar. Mas só percebi o obvio
quando o ônibus acelerou.
Com trânsito livre, o motorista
seguiu embalado até avistarmos um rapaz que, dada a distância que estava do
ponto, não chegaria a tempo.
Ele teve a mesma impressão,
grudou os livros que carregava e desandou a correr. Sua aflição atraiu a
atenção de todos, num típico misto de curiosidade e sadismo. Ele era
esforçado, e mesmo que ainda atônito, foi bem rápido pela rua até perto
do ponto. Este estava vazio de modo que o motorista pode soltar o pé e ir
parando um pouco antes.
Ao perceber o êxito, o rapaz
mudou de semblante, não chegou a ser arrogância nem prepotência, parecia só alivio
mesmo. Mas destino não distingue suas vitimas, e na
subida do meio fio seu pé escapou. Caiu de cara nos livros.
Entrou meio afobado no ônibus, acenou
com a cabeça para o motorista dando sinais de estar bem. Os operários sem calaram. Ficou ali na frente com um ar vitimado ajeitando
os livros e dando sopros, ridículos quando vindos de lábios barbados, no antebraço ralado.
No dia seguinte, de dentro do ônibus
embalado vimos o estudante com um curativo no braço, novamente atrasado e um
pouco longe do ponto. Ele não correu.