segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Jabuti, o Mosquito e a Raposa


Num bosque qualquer vivia um jovem Jabuti que já provido de um rijo casco passava os dias sem maiores preocupações e a passos lentos observava os outros animais. Um dia porém entediou-se de sua morosidade e foi ter com a Raposa Anciã, uma velha conhecida do bosque por seus poderes e magias. A Raposa então revelou ser capaz de transferir temporariamente alma do jabuti para outro animal de sua escolha e que compadecida da situação o faria sem cobrança alguma. O ávido Jabuti de pronto aceitou a proposta e inicialmente pensou em viver dias de passarinho, mas por medo de altura optou pelo mais modesto e discreto mosquito. E assim sucedeu-se e no dia seguinte o Jabuti acordou num corpo de mosquito flanando ligeiro entre os arbustos. Passou dias de êxtase entre voos curtos e acasalamentos fortuitos. No entanto esqueceu-se da brevidade da vida do mosquito e assim sem perceber que o ocaso chegara adormeceu profundamente após mais um coito para nunca mais acordar. O robusto corpo do Jabuti foi de imediato ocupado pela decrépita Raposa que ciente de sua finitude abriu mão de seus poderes já irrelevantes e agora caminha serena pelo bosque sempre com os mesmos passos lentos a contemplar os outros animais.

sábado, 21 de maio de 2016

Meu outro eu


Hoje eu acordei meu outro eu.

Me levantei e fui até a sala. Meu cachorro Bóbi lia o jornal de anteontem enquanto fumava um charuto cubano de óculos escuros (estava chapadão) em sua poltroninha feita sob medida, 40 por 30. Estava de sobretudo cáqui e gravatinha vermelha, do jeito que gosta às quintas-feiras. Não pude desfrutar do seu momento porque estava com pressa para ir ao banco. Amanhã é feriado aqui na cidade. Fizemos apenas um "high five" e me despedi.

Como não tenho carro, peguei minha bicicleta Calói 10 e comecei a dar umas pedaladas. 147 quilômetros não é fácil nem para os mais experientes ciclistas, motivo de ter desistido depois de 3 quarteirões. Joguei minha bike em um arbusto. Estava cansado, exausto, desmotivado, desnutrido, desnudo. Fazia frio e sabe como é, até os mais bem dotados. Você sabe.

Graças a Deus uma boa alma dentro de uma limousine que por ali passava me jogou uma jaqueta de couro, garrafa de uísque e calça collant. Não deu pra ver quem estava dentro, foi muito rápido mesmo, sério, mas tenho certeza que se tratava de Axl Rose. Certeza que era ele.

Mesmo não passando dificuldade, minhas mãos estavam geladas. Me aqueci, esfregando-as umas nas outras. Fiquei pensando no que faria. Não trouxe dinheiro. Não costumo andar com dinheiro na carteira. Quem anda com dinheiro na carteira hoje em dia? Ninguém. É ostentação, sujeito quer mostrar que está sobrando. Mesmo bilionário e filantropo, não sou desses.

Por sorte, quando me dei conta, já me encontrava em frente ao lugar da minha palestra. Todos me aguardavam e tudo estava foda pra caramba, uma decoração muito top, não sabia que o anfiteatro do MIT era tão grande, sinistro, muito grande. Me surpreendi um pouco com o Obama, achei que ele era mais alto, fiquei um pouco decepcionado com isso. Paciência, né? Foi quando peguei o microfone, depois de algumas horas de aplausos em pé

Acordei.

Cantiga blues


Tem dó de mim Teresa
Essa tristeza
Ei Caetano
Eu ando entediado
Todo lado que olho é isso
Um saco de feijão
E dois machados

                     


Quarta-feria ... à noite


No bar sozinho é que nasce o conto que só de raiva não postei. Não há solidão maior que a do escritor é o que dizem. E solidão não se compartilha.

Mensagem para você


Se você está lendo isso e não é um dos autores do blog é porque você é:

( ) um bosta.
( ) mais um punheteiro perdido na "net". Ou seja, um bosta.
( ) digitou o endereço errado. Logo, você é um bosta que não sabe digitar.
( ) um bostinha, dependendo da estatura.
( ) mais de uma das alternativas acima.

Inspiração

Queria saber onde foi parar a minha inspiração. Dois meses atrás ela foi até a padaria buscar três pãezinhos franceses e nunca mais voltou. Deve ter comido os pãezinhos e fugiu com os franceses.

É uma puta mesmo.

Boêmios capitalistas, mas nem tanto


—Tive que dar um jeito nas garrafas que deixou no meu carro. Elas não estavam todas vazias. E ainda não me pagou a gasosa, seu puto.
— Amiguinho, só a minha companhia já valeu sua semana.
—Você está cobrando um ágio que não existe, sobrepreço.
—Eu dou meu preço.
—Enquanto houver liquidez...
—Com um copo nas mãos sempre haverá!!!
—Seu puto.