sábado, 21 de maio de 2016

Meu outro eu


Hoje eu acordei meu outro eu.

Me levantei e fui até a sala. Meu cachorro Bóbi lia o jornal de anteontem enquanto fumava um charuto cubano de óculos escuros (estava chapadão) em sua poltroninha feita sob medida, 40 por 30. Estava de sobretudo cáqui e gravatinha vermelha, do jeito que gosta às quintas-feiras. Não pude desfrutar do seu momento porque estava com pressa para ir ao banco. Amanhã é feriado aqui na cidade. Fizemos apenas um "high five" e me despedi.

Como não tenho carro, peguei minha bicicleta Calói 10 e comecei a dar umas pedaladas. 147 quilômetros não é fácil nem para os mais experientes ciclistas, motivo de ter desistido depois de 3 quarteirões. Joguei minha bike em um arbusto. Estava cansado, exausto, desmotivado, desnutrido, desnudo. Fazia frio e sabe como é, até os mais bem dotados. Você sabe.

Graças a Deus uma boa alma dentro de uma limousine que por ali passava me jogou uma jaqueta de couro, garrafa de uísque e calça collant. Não deu pra ver quem estava dentro, foi muito rápido mesmo, sério, mas tenho certeza que se tratava de Axl Rose. Certeza que era ele.

Mesmo não passando dificuldade, minhas mãos estavam geladas. Me aqueci, esfregando-as umas nas outras. Fiquei pensando no que faria. Não trouxe dinheiro. Não costumo andar com dinheiro na carteira. Quem anda com dinheiro na carteira hoje em dia? Ninguém. É ostentação, sujeito quer mostrar que está sobrando. Mesmo bilionário e filantropo, não sou desses.

Por sorte, quando me dei conta, já me encontrava em frente ao lugar da minha palestra. Todos me aguardavam e tudo estava foda pra caramba, uma decoração muito top, não sabia que o anfiteatro do MIT era tão grande, sinistro, muito grande. Me surpreendi um pouco com o Obama, achei que ele era mais alto, fiquei um pouco decepcionado com isso. Paciência, né? Foi quando peguei o microfone, depois de algumas horas de aplausos em pé

Acordei.

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